quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A Conceitualização de Género como Categoria de Libertação da Mulher Moçambicana

Introdução
O género torna-se hoje um instrumento de emancipação, em que as mulheres e feministas procuram conquistar um espaço considerável socialmente na sociedade, trata-se também de políticas estratégicas que procuram fazer face as necessidades internacionais, de dar poder a mulher, não o retirando do homem, mas sim, equilibrando-o. É em termos deste género que pretende-se debruçar no presente artigo, nortear as ideias e, a partir da literatura, responder o seguinte questionamento: Como a Conceitualização do Género pode Libertar a Mulher Moçambicana?

A Conceitualização de Género como Categoria de Libertação da Mulher
Ser mulher e ser homem são os dois pólos socialmente criados em torno do género, não significando assim, conceptualizações biológicas. Para Scott (1995), constitui a toda forma de interacção social baseada nas "relações de poder". Pode representar ainda a organizações sociais de relações entre sexos, como também, pode indicar como a socialização dos papéis sociais dos homens e mulheres são construídas socialmente.
Para Heilborn (1991), género é o conceito das ciências sociais que se refere a construção social do sexo. Existindo sim para distinguir a dimensão biológica da social. O raciocínio que sustenta diferença baseia-se na ideia de que há machos e fêmeas na espécie humana, mas a qualidade de ser homem e ser mulher é realizada pela cultura. Em Young (sd), o conceito de género envolve um conjunto de ideias, comportamentos (ideologias ou praticas materiais). O uso do conceito envolve a operacionalização social e não biológica, e evita categorias de senso comum a favor de uma aproximação relacional.
Através da definição de Scott (1995), pode se verificar que é colocada nas relações sociais a partícula poder, este que se demonstra como indicador chave da existência do género socialmente construído. E poder pode ser percebido, primeiro, na perspectiva de Weber (2005), como a probabilidade de impor a própria vontade dentro de uma relação social, mesmo contra a resistência do sujeito passivo, seja qual for o fundamento dessa probabilidade. E por essa, pode haver a coerção, recorrendo a uma gama de meios. Segundo, na perspectiva de Foucault como algo que existe em toda parte, não que engloba tudo, mas porque vem de toda parte. Exerce-se ainda a partir do primeiro número de pontos e um mecanismo de relações não igualitárias.
Para a igualdade vs diferença, Scott (2000), encontra a teoria pós-estruturalista para aprofundar suas análises feministas. Esta, demonstra-se uma teoria que melhor permite ao feminismo romper o esquema conceitual das velhas tradições filosóficas ocidentais, que têm construído o mundo de maneira hierárquica, em termos de universos masculinos e especificidades femininas. Destaca que se precisa de teorias que permitam articular modos de pensamentos alternativos sobre género e que não busque simplesmente reverter ou confirmar velhas hierarquias.
Ressalta não ser a única, porém a que possui instrumental mais adequado e satisfatório para a análise das construções de significados e relações de poder, como também a que questiona as categorias unitárias e universais, tornando históricos conceitos que normalmente são tratados como naturais ou absolutos. Dessa forma, o pós-estruturalismo e o feminismo compartilham uma certa relação crítica diante das tradições políticas e filosóficas estabelecidas, e explorar essa relação, parece valioso.

Considerações
A conceitualização do género pode libertar a mulher moçambicana sim, através de vários indicadores, mas que aqui centramo-nos em dois: na educação que contempla uma hierarquia de valores e oportunidades de trabalho focado em mulher.
Pode se verificar que nas relações sociais o género é socialmente construído tendo em conta o poder. E em muitas sociedades o género feminino é subjugado pelo masculino devido a este poder que se transmite socialmente de geração em geração, colocando por vezes, em risco o género feminino, quando aplicado em doses altas. E sendo transmitido na mesma linhagem masculina este poder, pode se verificar que o empoderamento da linhagem feminina deve conter uma valoração diferente da do masculino, visto que este ultima é transmitido na masculinidade. Portanto, torna-se necessário pensar-se em indicadores diferentes para a libertação da mulher moçambicana, partindo duma educação que contemple uma hierarquia de valores que a possibilitem mobilidade social ascendente nos meios rural e urbano.
Tais indicadores devem ter em consideração as oportunidades de trabalho focado para a mulher, onde a mulher pode ser capacitada em matérias de liderança e seja capaz de comandar homens, transmitindo assim a experiencia de que as mulheres tem capacidades. Em todos níveis sociais, económicos e políticos que sejam difundidos informações educativas atinentes a igualdade de género na sociedade, demonstrando que não se trata de retirar o poder na linhagem masculina, mas sim, de igualdade de género, esta que pode trazer sustentabilidade no seio familiar, da sociedade ou comunidade, da nação e do mundo.
Este empoderamento da mulher deve ser proporcionado pelo Estado através de suas políticas, instituições, sector privado, organismos internacionais, sociedade civil, bem como a própria sociedade moçambicana. E a esta mulher que seja claro que o poder é um bem precioso e que dificilmente ser-lhe-á transmitido sem a superação de obstáculos.

Referências bibliográficas

HEILBORN, Maria L. Género: Uma breve introdução. In: Género e Desenvolvimento Institucional em ONGs. Núcleo de Estudos Mulher e Politicas Publicas, IBAM, 1999.

LOURO, Guacira L. Nas Redes do Conceito de género. In: Lopes at all. Genero e Saude. Porto Alegre, Artes Medicas, 1996.

SCOTT, Joan W. Preface a gender and politics of history. Cadernos Pagu, nº. 3, São Paulo 1994.

____________. “Género: Uma Categoria Útil para a Análise Histórica.” Traduzido pela SOS: Corpo e Cidadania. Recife, 1990.

WEBER, Max. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo, Editora Presença, Lisboa, 2005.


YOUNG, Kate. Género e Desenvolvimento: Uma aproximação relacional. S/e, sd.

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